Qualquer pessoa no mundo pode ser um contador de
história. Na verdade, todo mundo conta histórias quando fala de algo que
aconteceu na rua, de uma trapalhada da cozinheira, da primeira vez que o bebê
falou papai...
E se, todos contam histórias, o que mais fazemos
também, é ouvir histórias. Há histórias bonitas, trágicas, de amor ou de ódio,
de gente próxima, de gente que a gente nem conhece, nas notícias, nos filmes,
nas fofocas...
O tempo todo estamos neste exercício, ora narradores,
ora ouvidores.
Neste vai e vêm de histórias reais, tem aqueles
que fazem o registro destas histórias, escrevendo livros com histórias
fantásticas e personagens fantasiosos que nem nomes próprios possuem, mas são
tão conhecidos como, por exemplo, a “ Branca de Neve”. Eles podem representar qualquer
pessoa da vida real, bastando que o ouvinte se identifique com o conflito
vivido por um dos personagens. Segundo Walter Benjamim “...o contos de fadas,
que ainda é o melhor conselheiro das crianças, porque foi outrora o primeiro da
humanidade, permanece vivo, em segredo na narrativa...” Por isso, são estes contos que atravessam os
séculos, contados e recontados por gerações, que é claro, sempre acrescentado
de um ponto, o que os deixam sempre atualizadíssimos em suas versões.
As histórias também foram inventadas para
amenizar as dores morais dos mais oprimidos. Foi assim que inventaram os
personagens Ogros e Bruxas, para que eles fossem punidos pelos males que eles
causavam. Isso foi lá na Idade média, no feudalismo. Chamando o Senhor Feudal
de Ogro, os camponeses podiam imaginar os finais mais trágicos de seus
opressores e assim de certa forma, aliviar as tensões. Não é diferente de hoje
quando ouvimos histórias de bruxas, de madrasta. Sempre identificamos alguém
nestes personagens, quando não, a nós mesmos. As histórias são para as nossas
identificações. É assim que a fantasia explica a realidade e dão-nos as
máscaras necessárias para reconhecermos nossos desejos mais íntimos, como num
sonho.
Hoje, o Contador de História tem um lugar muito
importante na sociedade. Se pensarmos neste mundo globalizado, repleto de entretenimentos
eletrônicos, ipad, ifone, internet, games, fica difícil para os mais jovens de construir
sua identidade sociocultural e muito menos adquirir o gosto pela leitura. Por
isso os narradores e mediadores de leitura profissionais estão sendo cada vez mais convidados a desenvolverem
sua arte nas escolas, livrarias, bibliotecas, hospitais e até praças
públicas. Este profissional merece reconhecimento pois
ele sabe da responsabilidade que é ser um Contador de histórias, que é difundir
a cultura, os valores que regem nossos relacionamentos no dia-a-dia e ainda o
estímulo à leitura e à literatura.
Quem conta um conto tem a história na ponta da
língua e quanto mais se conta uma história, melhor ela fica, pois sempre se descobre
algo novo ou uma nova maneira de contá-la. O contador deve sempre escolher o
melhor gesto, a melhor entonação de voz, os melhores recursos a serem
utilizados para uma determinada história. Deve ter em mente que contar
histórias é um legado no qual o contador se autoriza a reproduzir oralmente um
texto de literatura seja infantil ou adulta, e por isso deve, por respeito, bem
apresentá-la.
O mais nobre desse oficio de Contador de
histórias é fazer o ouvinte, encontrar ressonância com a sua vida real. É
maravilhoso quando ao final de uma apresentação, alguém se aproxima e diz que
precisava ouvir aquela história, que naquele momento a história ajudou a
enxergar seus problemas de um novo ângulo. Ou quando uma criança,
automaticamente, começa a contar coisas que estão acontecendo em sua casa,
mostrando o efeito instantâneo que a história causou em seu inconsciente.
Portanto uma boa história contada é aquela que o narrador faz chegar aos ouvidos
do coração!