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"E se não morreram, viveram felizes até hoje, diz o conto de fadas. O Conto de fadas, que ainda hoje é o primeiro conselheiro das crianças, porque foi outrora o primeiro da humanidade, permanece vivo, em segredo, na narrativa. O primeiro narrador verdadeiro é e continua sendo os contos de fadas." (Walter Benjamin)

domingo, 24 de outubro de 2010

Ótimo livro para pais que "boiam" e filhos que "chovem".

"O Menino que Chovia" é um livro de Cláudio Thebas que sempre gostei por ser uma história toda contada em prosa poética, estilo que eu gosto muito de me apresentar narrando histórias. Mas este livro não serve apenas para uma bela apresentação num momento de contação de histórias, aliás é um livro excelente para os papais e mamães de hoje..."Qualquer semelhança com a vida real....não..... é mera coincidência"...
Levei este livro numa aula de" Psicanálise de Pais" para meu  professor de psicanálise Lacaniana, Durval Checchinato. Ao ouvir atentamente a história deste menino, gostou tanto que recomendou a todos os alunos  um exemplar do livro.  É que, a  história ilustra de forma muito divertida, como os pais de hoje estão "boiando" diante das "chuvaradas" de suas crianças.


Estamos diante de uma realidade onde os pais ficam fora o tempo todo, os cuidados com os filhos são terceirizados e as crianças estão perdidas tentando se encontrar, muitas vão passar para a fase  adulta sem ser crianças e outras nem deixarão de ser crianças pelo resto da vida, o que quer dizer em termos psicanlíticos que estas não terão suas pulsões educadas nem orientadas.

Para os leigos,  falar em pulsão pode ser complicado, mas eu tentarei ser simples. Os animais tem instinto pois já nascem e vão se virando pela natureza encontrando seu alimento e procriando do mesmo modo como à milhares de anos e sua evolução já carrega isso no DNA fica fácil. Nós humanos não temos nossos "sistema operacional" carregado desta forma.  Ele vai sendo carregado aos poucos e nós precisamos de muita informação para direcionar nossa pulsão a fim de garantir nossa sobrevivência de forma mais saudável, mais plena e isto inclui saber viver em sociedade.

Segundo Checchinato autor do livro "Criança, sintoma dos pais", uma criança que chora, "Chove tempestade" é uma criança que sofre pois não está conseguindo se inserir no mundo e a sua pulsão está desordenada.

Na maioria dos casos quando as crianças são rotuladas de problemáticas, não é a criança que tem defeito, o que ela é, é um efeito, o resultado da dificuldade dos pais e adultos em mostrar as leis que regem a vida humana em sociedade. Não se trata de falar aqui só de limites...é muito mais do que isso. É também ajudar a criança a saber quando dizer "obrigado",  "por favor"  e "bom dia" fazendo-a reconhecer a existência das outras pessoas.

Muitas vezes para se conviver com as crianças e suas dificuldades as escolas mandam os pais procurarem um especialista, psicólogos, neurologistas e até psiquiatras, para consertarem seus defeitos (hiperatividade, TDA, agressivas, depressão, idéias fixas) e assim vestem uma bóia para não se afogarem em meio a tantas tempestades e as crianças passam tomar remédios que futuramente podem comprometer a sua personalidade, trazendo um comportamento fabricado, aliendado do seu ser como sujeito.

A verdade é que elas sofrem por não saberem o lugar que elas ocupam nas suas famílias, quando elas passam a mandar na casa...e os seus pais não sabem como fazer, pois se sentem culpados por não permanecer em casa e acabam deixando fazer tudo o que querem, quando na verdade uma criança pra se sentir amada precisa que seus pais digam "Não" quando for preciso, sem remorsos mas com a convicção do que é o melhor pra eles, que é assim que eles vão aprender a conviver em sociedade e amar...Deixar fazer tudo pode ser abandono, comodismo, ou narcísico,  mas não pode ser amor.

 Muitas vezes a criança ainda não está em condições de compreender explicações, nesta hora um 'não' deve ser firme para que a criança  entenda que "não se faz tal coisa", ou "isso não se faz" e é importante que a criança saiba que ela não está obedecendo apenas para agradar o papai e para a mamãe, mas que existe o Outro e assim ela vai começando a introduzir na sua realidade a sua posição de filho, irmão, aluno, amigo..uma pulsão ordenada leva a criança a se ocupar de atividades infantis, de se alegrar, de participar de jogos e brincadeiras, aprender a ganhar e a perder e muitas outras coisas para se aprender a viver socialmente.

Para exemplificar, um dia desses, estava  no consultório do meu médico homeopático e junto comigo uma mãe com sua filha lindinha de uns 5 anos. Simplesmente a menina não sabia como  ficar quieta, nada podia ficar parado à sua volta, falava só em voz alta e não respeitava ninguém. A mãe nada dizia, como se aquilo fosse uma coisa natural...pensei "hoje a mãe fica calma achando tudo lindinho, mais tarde vai dizer..."-Onde foi que eu errei?". A menina tirava os móveis de lugar e estava mudando a sala toda. Olhei para a menina delicadamente, sorrindo perguntei "Aqui é sua casa?" , ela respondeu  "não", então disse a ela que não poderia mudar os móveis das casas das outras pessoas, só os da casa dela. Ao que ela procurou os olhos de sua mãe para ver se havia alguma dúvida. Pra minha sorte a mãe confirmou que ela não poderia mesmo fazer aquilo. A menina parou, mas não voltou nada no lugar... mesmo a mãe pedindo ela não fez. Depois pediu um iogurte para a mãe, e pra minha surpresa a  mãe carregava um isopor cheio de coisas para que nada faltasse àquela criança... mas isso já é outro assunto. O que eu fiquei sabendo é que ninguém aguenta quando ela aparece por lá...mas ninguém pode com ela....Será ? Eu penso que ela está pedindo isso o tempo todo! Os pais precisam entender como os filhos pedem para ser ordenados.
Este livro é bom e eu recomendo! Por amor as nossas crianças, nossos futuros homens e mulheres, não "boiemos", mas ensinemos nossas crianças à "nadar" .

Elaine Cristina Villalba de Moraes

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