A psicanálise desde Freud, muito contribuiu para compreendermos a importância da fantasia na apreensão da realidade.
Somos convidados a fantasiar logo que nascemos a fim de dominar nossas angústias e realizar os nossos desejos.
As histórias, os contos de fadas, os mitos são a fonte do universo simbólico, onde podemos matar a nossa sede de uma fantasia que no fundo é a nossa sede de verdade, de compreensão dos significados para a nossa vida em nosso dia-a-dia.
Crianças ou adulto somos tão ávidos de fantasias que passamos muito tempo nos romances, filmes, novelas e ficções, desenhos animados, livros e tudo o mais que podemos sorver para hidratar nossa alma.
Lacan afirmou que "o inconsciente é estruturado como uma linguagem"... linguagem que nos cria e que nos fornece os meios para viver.
A verdade não pode ser apreendida direta do real, mas somente e através desta linguagem e da fantasia.
A Fábula da Verdade por (Regina Machado)
Quando A Providência criou a mulher, criou também a Fantasia.
Um dia, a Verdade resolveu visitar um grande palácio. E tinha que ser justo o palácio onde morava o sultão Harun al-Rashid. Envoltas as lindas formas num véu claro e transparente, ela foi bater na porta do rico palácio em que vivia o glorioso senhor das terras muçulmanas. Ao ver aquela formosa mulher, quase nua, o chefe da guarda perguntou-lhe:- Quem é você?
- Sou a Verdade! - respondeu ela, com voz firme - Quero falar com o seu amo e senhor, o sultão Harun al-Rashid, Emir dos crentes!O chefe da guarda, que cuida da segurança do palácio, apressou-se em levar a nova ao grão-vizir.
- Senhor, - disse, inclinando-se humildemente, - uma mulher desconhecida, quase nua, quer falar ao nosso soberano.- Como se chama?- Chama-se Verdade!- A Verdade! - disse o grão-vizir espantado. - A Verdade quer penetrar neste palácio? Não! Nunca! Que seria de mim, que seria de todos nós, se a Verdade aqui entrasse? A perdição, a desgraça! Diga a ela que uma mulher nua, despudorada, não entra aqui!- Voltou o chefe da guarda com o recado do grão-vizir e disse à Verdade: - Aqui não pode entrar, minha filha. A sua nudez iria ofender nosso Califa. Volta, pelo caminho de onde veio.
Porém, quando A Providência criou a mulher, criou também a Obstinação.E a Verdade continuou a alimentar o propósito de visitar um grande palácio. E tinha que ser justo o palácio onde morava o sultão Harun al-Rashid. Persistente, ela cobriu as peregrinas formas com um pano grosseiro como os que usam os mendigos e foi novamente bater na porta do suntuoso palácio em que vivia o glorioso senhor das terras muçulmanas. Ao ver aquela formosa mulher vestida tão grosseiramente com trapos, o chefe da guarda perguntou-lhe:- Quem é você?- Sou a Acusação! - respondeu ela, brava. - Quero falar ao seu amo e senhor, o sultão Harun al-Rashid, Comendador dos crentes! O chefe da guarda, que cuida da segurança do palácio, correu a entender-se com o grão-vizir: - senhor, - disse inclinando-se humildemente - Uma mulher desconhecida, com o corpo envolto em panos grosseiros, deseja falar ao nosso soberano.- Como se chama?- Chama-se Acusação!- A Acusação! – disse o grão-vizir, aterrorizado. Que seria de mim, que seria de todos nós, se a Acusação entrasse aqui? A perdição, a desgraça! Diga a ela que aqui não, aqui não pode entrar! Diga-lhe que uma mulher, vestida com panos grosseiros, não pode falar ao nosso amo e senhor! - Voltou o chefe da guarda com a proibição do grão-vizir e disse à Verdade:- Aqui você não pode entrar, minha filha. Com estas roupas rasgadas, próprias de um beduíno rude e pobre, não podes falar ao nosso amo e senhor, o sultão Harun al-Rashid! Volta, em paz, pelo caminho de onde veio.Vendo que não conseguiria realizar seu intento, ficou ainda mais triste a Verdade, e afastou-se vagarosamente do grande palácio do poderoso senhor.
Mas...Quando A Providência criou a mulher, criou também o Capricho.E a Verdade encheu-se do vivo desejo de visitar um grande palácio. E tinha que ser justo o palácio onde morava o sultão Harun al-Rashid.Vestiu-se com riquíssimos trajes, cobriu-se com jóias e adornos, envolveu o rosto em um manto de seda e foi bater à porta do palácio em que vivia o glorioso senhor dos árabes.Ao ver aquela encantadora mulher, linda como a quarta lua do mês do Ramadã, o chefe da guarda perguntou-lhe:- Quem é você?- Sou a Fábula! - respondeu ela, em tom meigo. - Quero falar com o sultão Harun al-Rashid, Emir dos crentes!O chefe da guarda, que cuida da segurança do palácio, correu a entender-se com o grão-vizir.- Senhor, disse, inclinando-se humilde, uma linda e encantadora mulher, vestida como uma princesa, solicita a audiência de nosso amo e senhor, o sultão Harun al-Rashid, Emir dos crentes!- Como se chama?- Chama-se Fábula!- A Fábula! Disse o grão-vizir, cheio de alegria. - A Fábula quer entrar neste palácio? Que entre! Bendita seja a encantadora Fábula. Cem formosas escravas irão recebê-la, com flores e perfumes. Quero que a fábula tenha, neste palácio, a acolhida digna de uma verdadeira rainha!E foram abertas as portas do grande palácio de Bagdá e a formosa peregrina entrou. E foi assim que, vestida de Fábula, a Verdade conseguiu entrar no grande palácio do poderoso Califa de Bagdá, o sultão Harun al-Rashid, Principe de todos os crentes.
Sejam Bem Vindos!!
"E se não morreram, viveram felizes até hoje, diz o conto de fadas. O Conto de fadas, que ainda hoje é o primeiro conselheiro das crianças, porque foi outrora o primeiro da humanidade, permanece vivo, em segredo, na narrativa. O primeiro narrador verdadeiro é e continua sendo os contos de fadas." (Walter Benjamin)
"E se não morreram, viveram felizes até hoje, diz o conto de fadas. O Conto de fadas, que ainda hoje é o primeiro conselheiro das crianças, porque foi outrora o primeiro da humanidade, permanece vivo, em segredo, na narrativa. O primeiro narrador verdadeiro é e continua sendo os contos de fadas." (Walter Benjamin)
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"As infinitas maravilhas do Universo são a nós reveladas na medida exata em que nos tornamos capazes de percebê-las. A agudeza da nossa visão não depende do quanto podemos ver, mas do quanto sentimos". (Helen Keller)